Relato feito pela comissária de bordo Juliana Rebelatto e publicado com sua permissão.
Cada profissão exercida, sem exceção, tem suas vantagens e dificuldades. E para profissionais que trabalham na aviação comercial isso não é diferente.
Vendo esses profissionais uniformizados, muito bem alinhados, com suas malas prontas para alguns dias de viagem, parece ser a vida que pedimos a Deus!
Para muitas pessoas viver viajando, hospedados em hotéis, conhecendo lugares nunca antes imaginados pode ser comparado à vida de uma atriz de Hollywood; assim escuto de muitas pessoas.
Mas antes de chegar ao destino final para desfrutar de tudo isto, existe uma série de procedimentos e normas a serem seguidos a fim de assegurar a segurança e integridade dos passageiros.
Os comissários de bordo (ou de vôo) estão sempre prontos para atender aos passageiros, sejam elas pessoas que estão viajando a trabalho, a passeio, ou para fazer tratamento médico. São pessoas com os mais variados motivos e por conta dessa variedade, o jogo de cintura para atendê-los tende a ser maior.
Iniciando uma jornada, seguimos uma escala mensalmente programada que ditará a nossa odisséia. Podemos iniciá-la no Sudeste e terminar no Norte passando por algumas cidades. Nestas viagens posso perceber a diferença de cultura que nosso país tem. Quão rica a nossa gastronomia é, o modo de vida de cada região, assim como a cultura.
E assim seguimos uma jornada de até cinco etapas diárias, de até seis dias fora de casa, com os horários nada convencionais. Curiosamente às vezes até me pego olhando o calendário ou perguntando para um colega, em qual dia da semana estamos, porque o domingo e qualquer outro dia da semana está totalmente descaracterizado no meu calendário. Vivemos pelas programações, por quantos dias estaremos fora de casa. E com o passar do tempo, você acaba percebendo que você convive mais com o seu colega de trabalho do que com sua própria família ou amigos. Fazer laços de amizade na aviação é algo um pouco mais complicado, por conta de que cada programação é efetuada com uma tripulação diferente! E cada um com suas manias e particularidades.
Mas existe algo nos tripulantes que me intriga e que talvez pudesse ser tema de tese de conclusão de curso. Por mais que a vida na aviação traga muitas experiências boas, oportunidades das mais variadas, percebo que alguns colegas tem o tempo de vida contado. Os planos são os mais diversos. O que importa é fazer seu pé de meia e dar certo. Já ouvi muitas histórias. Pessoas que acreditaram em seus sonhos e arriscaram ter uma vida ‘normal’.
Desde pessoas que arriscaram trabalhar por conta, como outros que tentaram a vida em empresas. Só posso contar os depoimentos dos que voltaram. Dos que não se adaptaram e sentiram falta da vida agitada na aviação.
Eu acredito que o ser humano precisa de equilíbrio em tudo o que faz, em todas as áreas da sua vida. E nesta rotina de nômades, onde o sacrifício de passar vários dias fora do seu círculo pessoal é a conseqüência inevitável, faz com que alguns anseios fiquem de lado e assim até algumas frustrações venham a aparecer.
Mas eu apesar de querer fazer algumas atividades à parte da aviação, continuo a aproveitar o que ela me oferece. Olhando cada ângulo diferente do que costumava olhar e aprendendo a ser melhor. Sempre. Afinal de contas, sempre podemos ir mais longe!
Este depoimento evidencia alguns aspectos importantes da profissão:
– A pessoa que quiser segui-la deverá ter em mente que deve ter facilidade de comunicação e adaptação ao meio e aos horários.
– Deve ser desprendido e não ser muito apegado à família, aos amigos e a/o namorada/o.
– Também ficam prejudicados os cursos, pois nunca se sabe se o dia da folga coincidirá com o dia do curso.
– Se isto não estiver bem claro, haverá conflito entre o seu trabalho e seus outros ideais.
Os conflitos nem sempre são resolvidos facilmente, porque a pessoa fica insegura na hora de tomar uma decisão. Mesmo depois que a decisão foi tomada, fica a dúvida se é ou não a mais acertada. São dilemas que podem causar doenças psicossomáticas que se iniciam, muitas vezes, por uma dor de cabeça.
Assim, se estiver se identificando com esse texto, procure ajuda profissional. O psicólogo, através de entrevistas e testes, poderá ajudá-lo /a na tomada de decisões.